Estava muito escuro, o ar estava seco, o chão frio, e eu percebi que estava descalço.
Não podia ver nada, apenas ouvia um zumbido alto e grave, como o de uma grande turbina ligada, que ecoava por todo o local. Não sei se vinha de cima ou de baixo de meus pés, mas parecia vir de dentro de mim.
Andei, com cuidado, pelo o que parecia um grande galpão, até chegar a uma parede e percorrer parte dela com as pontas dos dedos, percebendo uma parte mais fria, de vidro, que formava alguns quadrados gélidos. Era uma janela, igualmente escura, como todo o galpão. Me aproximei dela e tentei ver algo. O máximo que pude notar foi que esta janela parecia selada por uma placa que impedia a entrada de luz.
Dei alguns passos para trás, e sentei-me ao chão. Eu não sabia onde estava, nem como havia chegado ali, apenas que estava angustiado e com frio. Me abracei, numa tentativa frustrada de me aconchegar e esfreguei minhas mãos sobre os ombros, causando um leve calafrio. Cantarolei uma baixa e desafinada cantiga que me parecia familiar, mas eu não sabia a letra.
Minha cabeça não parava, pensei nos motivos para estar ali, naquele lugar escuro e desagradável. Só conseguia me lembrar de ter passado por uma viela mal iluminada, cuja única lâmpada, no alto de um poste torto, piscava de forma tenebrosa. Aquela imagem me embrulhou o estômago, então resolvi pensar em coisas boas. Lembrei de um sábado ensolarado em que fui acordado pela luz do sol, que entrava pela janela de meu quarto, esquentando meus braços. Levantei irritado e fechei a persiana, reclamando e indo para a sala, branca, clara e agradavelmente fria, assistir TV. Lembro-me daquele dia como num sonho. Eu sempre gostei de frio. O calor sempre me irritava e me forçava a mudar de banco no parque... Mas hoje o frio era demais. Estava me irritando tanto quanto o calor do Sol a pino. Eu não conseguia me aquecer e estava começando a ficar com fome.
O zumbido já avia sido ignorado há alguns minutos, ou horas, não sei quanto tempo eu ficara ali sentado.
Decidi levantar, e fui tateando um caminho seguro até encontrar uma parede diferente, parecia feita de madeira. Era um grande caixote. Forcei suas laterais em minha direção algumas vezes, tentando abri-lo, mas não consegui. A angústia por estar ali já havia passado um pouco, mas a dúvida permanecia.
Meus olhos ardiam, talvez eu tivesse dormido demais. Quanto tempo será que estive desacordado?
Minhas mãos, frias e trêmulas, encontraram meu rosto quente e úmido. Eu estava chorando e não havia percebido até então.
O zumbido cessou e pude ouvir um som parecido com o de metal batendo contra metal e então, o chão me jogou alguns centímetros para cima, teria sido um terremoto? Parecia mais que alguém tinha jogado minha enorme caixa escura e fria no chão, cansado de brincar com ela. Meu coração havia disparado e minha respiração estava ofegante.
Agora estava tudo silencioso. Silencioso demais, eu diria. Fiquei com medo de algo estranho aparecer das sombras e me machucar, então me encolhi como uma bola, cruzando os braços sobre os joelhos e escondendo meio rosto em baixo deles, deixando apenas os olhos à mostra, na esperança de enxergar algo nas trevas. Depois de algum tempo com os olhos abertos e perdidos no escuro, comecei a ver pontos coloridos dançando na minha frente. O ponto vermelho parecia frenético, enquanto o azul e o verde apenas giravam lentamente formando espirais em torno do vermelho. Notei que estava delirando, pisquei algumas vezes, reanimando meus olhos e voltando a mim.
Pude ouvir um eco vindo do lado esquerdo, como o de uma porta de aço sendo destrancada. Me levantei prontamente, fazendo-me lembrar do chão frio, e gritei "Alguém aí?!"
Só ouvi o eco de minha voz repetindo "Aí...aí...aí...". Sentei-me de novo, tentando acertar o mesmo lugar de antes, que agora tinha sido aquecido por meu corpo. Assim que me acomodei, ouvi novamente o som da porta, mas agora uma forte luz branca vinha em minha direção, ofuscando qualquer possibilidade de que meus olhos acostumados com a escuridão pudessem ver algo. Tentei levantar, mas minhas pernas não me aguentaram dessa vez e, talvez por ter levantado rápido demais, minha cabeça rodou. Pude sentir que caia num tipo de chão diferente. Era macio e quente...
Meus braços estavam fervendo e eu pude abrir os olhos de novo. Levantei, bufando, e fechei a persiana. Fui para a sala, sentei no sofá de couro cor de creme, gelado do jeito que eu gostava, e liguei a TV.
sábado, 13 de junho de 2009
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